Ontem estávamos passeando na orla, as crianças e eu. Uma orla sem carros, voltada aos pedestres. O dia estava bonito, com um vento fresco e apesar de estar com camiseta regata, Francisco não parecia estar com frio.
Decidimos que iríamos até o Copacabana Palace, que ficava logo após a colina. Iríamos ver onde a mamãe trabalhava.
Já no hotel as crianças sumiram. Fui encontrá-las atrás de um balcão em uma área administrativa no segundo andar, sob os olhares mal-humorados de um senhor que lá trabalhava. Consegui convencê-las a ir até o jardim do segundo andar.
Depois de brincarem no jardim resolvi chamá-los pra ir na biblioteca do hotel. O único que não quis nos acompanhar foi o filho da Julia. Mas ele é negro, será que ela já adotou uma criança e eu não lembrava?
Na biblioteca perdi as crianças de novo e não sabia se as procurava ou se olhava os livros. O bibliotecário (ou seria bibliotecária?), que mais parecia um anão ou anã de conto de fadas, ao me ver fez grande festa: “Há quanto tempo, majestade!” Por que será que ele tinha esta mania de nos chamar assim?
“Procuro algumas crianças, livreiro.” falei, me dirigindo a ele como ele gostava de ser chamado.
“Tem algumas ali naquela sala ao lado, mas não sei se são as suas,” ele respondeu.
“As minhas são as que estão ali no cantinho,” disse ao avistá-las.
À noite, enquanto caminhava pela rua sozinho, fiquei apertado para fazer xixi. Encontrei com o livreiro que me perguntou: “qual o seu problema, majestade?”
“Estou apertado, procuro um banheiro.”
O livreiro então me agarrou pela mão e decolou como um foguete, a mil por hora, eu balançando como um boneco na mão de uma criança.
“Pra onde vamos?,” perguntei.
“Te levo para o banheiro no palácio, majestade,” respondeu ele.
Não sei se foi a vertigem ou a velocidade, mas acordei logo em seguida.