Maré alta

Estávamos em alguma lugar do litoral. J. estava muito queimada de sol, morena mesmo. I. não estava queimada, rolava até uma inveja entre as irmãs. Saí quando a maré estava cheia, daquelas de invadir o calçadão. Não daquelas ondas violentas, só marolinhas de baía, típica de várias praias de Angra dos Reis.

Ao caminhar um pouco na rua já seca encontrei uma feira de objetos usados que os vendedores tentam passar como relíquias antigas de valor elevado. Estava observando alguns eletrônicos quando aparece o D.

— Bora lá no (…)? Tenho só que passar em casa antes.

Saio da feira, acompanhando-o. Quando ele sobe no prédio, fico na rua esperando. Encontro uma fita cassete dupla. Eu tinha esse CD duplo. Era Chico Buarque? A embalagem abria pros dois lados, cada um revelando uma fita, mas era difícil fechar.

— Larga isso aí, vambora, temos que chamar o Rafael — disse D. apressado ao sair.

— Sei lá quem é o Rafael, pensava eu enquanto o seguia.

Paramos em frente a um prédio onde D. começou a gritar:

— Rafael! Rafaeeeeeeel!

Tomara que seja no primeiro andar, pensei. E tomara que os vizinhos não reclamem, porque eu já estaria me preparando pra em jogar água lá de cima.

Rafael aparece na janela e faz sinal que vai descer. Achei parecido com o P. Quando Rafael chega, era mesmo o P. Nos envolvemos em um abraço demorado, felizes de nos encontrarmos após tanto tempo.

— Quando tu voltou? E que raio é isso de Rafael?

— Sei lá, cara, ele sempre me chamou assim. Voltei tem algumas semanas, não tava muito legal.

Continuamos a caminhar, seguindo conversando 2m atrás de D., que andava apressado. P. me contava que separou da mulher, estava preocupado com a situação por causa do filho (ou eram dois?), que não sabia se ficava por aqui ou se voltava por causa dos moleques… Eu fazia um comentário aqui ou ali, garantindo que tudo iria dar certo.

Tomara que dê mesmo tudo certo.

Apocalipse Zumbi

Tínhamos acabado de chegar, Chris, Zu e eu. Essa seria a segunda vez que passaríamos o natal e réveillon juntos, toda a família. Ao invés de Paris, uma cidade da Inglaterra (ou Nova Inglaterra — New England — não lembro ao certo).

Fomos dar um passeio enquanto esperávamos pela chegada do resto da família quando Zu e Chris apontaram o comportamento estranho de algumas pessoas. Não tive dúvidas, estávamos no início de um apocalipse zumbi.

Após convencê-las de que devíamos sair antes que o caos se instalasse, decidimos por Paris. We will always have Paris. Mais um fim de ano na Cidade Luz, um pouco diferente desta vez.

Ao desembarcar em Paris notamos que a notícia já tinha se alastrado e as primeiras medidas estavam sendo tomadas. Conseguimos lugar em um café que aceitou nos abrigar. Nas ruas, barricadas eram montadas, apesar de ainda não haver contaminação confirmada em solo francês.

Nos acomodamos, esperando e rezando para que o resto da família chegasse em segurança.

Aeroporto

Era uma churrascaria de aeroporto de cidade pequena, daqueles cuja pista comporta no máximo um 737.

A carne estava ruim. Com muito custo descolei uma maminha que poderia considerar razoável. Comi, paguei e na saída cumprimentei um moleque, nos seus 5 ou 6 anos, fantasiado de Batman, que entrava com seu pai.

No saguão do aeroporto, enquanto esperava meu voo, comecei a sentir um leve tremor. O tremor foi aumentando, o barulho também. Logo todas as janelas do aeroporto sacudiam com o trovejar de uma enorme aeronave que se aproximava.

Enorme seria eufemismo. Um 737 ao lado dela parecia uma moto ao lado de um 737. Não haveria maneiras de uma aeronave daquele porte pousar neste aeroporto. Descobri que ela não veio pousar, mas abastecer. Meia dúzia de aviões acompanhavam os círculos no ar dados pelo colosso aéreo, como moscas ao redor de um cachorro. Um por vez, colavam no montro para abastecê-lo.

Durante duas horas o espaço aéreo do aeroporto ficou fechado enquanto o gigante alado era abastecido. Durante duas horas o barulho dos motores da enorme aeronave sacudiu as janelas do aeroporto. Durante duas horas fiquei olhando pra cima, admirando o balé aéreo.

Lembrei do Júlio. Acho que ele daria um rim pra estar lá admirando também.

Meta

Esta noite tentava explicar para o André meu sonho e seu significado. Não consigo de maneira alguma lembrar o que o sonho sonhava.

Copacabana Palace e o livreiro

Ontem estávamos passeando na orla, as crianças e eu. Uma orla sem carros, voltada aos pedestres. O dia estava bonito, com um vento fresco e apesar de estar com camiseta regata, Francisco não parecia estar com frio.

Decidimos que iríamos até o Copacabana Palace, que ficava logo após a colina. Iríamos ver onde a mamãe trabalhava.

Já no hotel as crianças sumiram. Fui encontrá-las atrás de um balcão em uma área administrativa no segundo andar, sob os olhares mal-humorados de um senhor que lá trabalhava. Consegui convencê-las a ir até o jardim do segundo andar.

Depois de brincarem no jardim resolvi chamá-los pra ir na biblioteca do hotel. O único que não quis nos acompanhar foi o filho da Julia. Mas ele é negro, será que ela já adotou uma criança e eu não lembrava?

Na biblioteca perdi as crianças de novo e não sabia se as procurava ou se olhava os livros. O bibliotecário (ou seria bibliotecária?), que mais parecia um anão ou anã de conto de fadas, ao me ver fez grande festa: “Há quanto tempo, majestade!” Por que será que ele tinha esta mania de nos chamar assim?

“Procuro algumas crianças, livreiro.” falei, me dirigindo a ele como ele gostava de ser chamado.

“Tem algumas ali naquela sala ao lado, mas não sei se são as suas,” ele respondeu.

“As minhas são as que estão ali no cantinho,” disse ao avistá-las.

À noite, enquanto caminhava pela rua sozinho, fiquei apertado para fazer xixi. Encontrei com o livreiro que me perguntou: “qual o seu problema, majestade?”

“Estou apertado, procuro um banheiro.”

O livreiro então me agarrou pela mão e decolou como um foguete, a mil por hora, eu balançando como um boneco na mão de uma criança.

“Pra onde vamos?,” perguntei.

“Te levo para o banheiro no palácio, majestade,” respondeu ele.

Não sei se foi a vertigem ou a velocidade, mas acordei logo em seguida.

Festa estranha

Encontrei a Ísis na festa. Perguntei se ela tinha visto a Joana. Não. Ela por sua vez me perguntou se eu tinha visto o Bruno. Também não.

Procuramos um pouco pela festa e chegamos à conclusão de que eles estavam em {…}. Decidimos ir até lá.

O Alessandro nos deu uma carona. Ele seguia a 140 km/h na contramão, desviando dos carros que, parecendo borrões, vinham em nossa direção. De vez enquanto soltava uma gargalhada: “Hahahaha, se bater faz BUM!”

Acordei sem saber se chegamos.

Mansão e sapatos

Hoje estava com a Cris e o Antônio em uma mansão com muitos aposentos. Antônio perguntou se tínhamos visto a sensacional adega. Fomos procurar.

Encontramos uma porta que supomos que fosse a tal adega. Era um aposento pequeno, sem janelas ou móveis. No canto havia uma abertura, como uma passagem secreta que alguém esqueceu de fechar. Entramos pela passagem estreita, eu com um pouco mais de dificuldade que ela em passar pela abertura.

Seguimos por um corredor enorme, em obras, cheio de janelas. Andamos muito até chegar em uma área que parecia um shopping, com o teto de vidro clareando o ambiente. Era enorme e parecia que tínhamos entrado em uma espécie de outra dimensão, porque não havia maneiras daquela área toda caber na mansão.

Logo me perdi da Cris. Fiquei andando pelo lugar observando as lojas, as pessoas, os seguranças. Notei que estava sem um dos sapatos. Só pode estar dentro do lago, pensei. Mas qual?

Fui procurando pelos lagos do shopping, mas era proibido entrar na água. Havia outras pessoas sem um pé dos sapatos e parece que todos sabiam que encontrariam os sapatos dentro de um dos lagos.

Apesar da proibição, algumas pessoas tentavam entrar nos lagos para procurar seus sapatos mas logo eram retiradas pelos seguranças. Tentei entrar também e só consegui pés molhados antes de ser retirado. Fiquei frustrado porque tinha certeza que meu sapato estava naquele lago.

Ao lado do lago onde estava meu sapato havia uma loja de vidro. Dentro dela um carro de luxo, Rolls-Royce, talvez. Depois de um tempo saiu da loja um casal que só podia ser o casal real daquele lugar.

Eles deram um par de sapatos para todos que tinham um dos pés descalços e entraram no automóvel. Deu pra ver de relance que o automóvel estava cheio de pacotes de fraldas de bebê.

Bebo, hic, cachaça

Outra noite eu estava bêbado. Estava em uma festa e tinha certeza que estava sonhando, mas também tinha certeza que estava bêbado.

O que me intrigava não era saber que sonhava, mas como eu podia sonhar que estava bêbado.

Casório

Hoje fomos, a galera toda, ao casamento da Carol. Ela tinha virado evangélica, seu noivo e todos os outros convidados eram também evangélicos.

No meio da festa reparei um jipe. Cheguei mais perto pra olhar pensando
“parece com o carro da Dani”. Nisso chega a dona do carro pra sair e
fica me olhando com a cara de “o que ele quer com meu carro?”. Quando
ela abriu a porta notei que dentro, perto do painel, havia uma
churrasqueira suja de cinzas e gordura. Pelo interior do carro dava pra
ver que a churrasqueira já tinha sido usada muitas vezes.

Na hora do brinde rolou uma certa discórdia sobre a bebida. Nada sério, mas os evangélicos não queriam brindar onde tivesse álcool, e a galera não queria brindar com refri.

Resolvemos indo para um botequim comprar cerveja enquanto os evangélicos foram para o botequim ao lado, que era evangélico, comprar refrigerante. Por fim brindamos todos juntos.

Já chegou o disco voador

Outra noite eu estava certo que nosso planeta estava às vésperas de uma invasão alienígena. Não lembro exatamente quem estava comigo, nem se essa pobre alma acreditava em mim, mas essa pessoa se recusou a comer a nutritiva lama negra que tínhamos à disposição em nosso caminho.

Era preciso economizar recursos e energia para os tempos difíceis que viriam pós invasão. O problema é que ninguém acreditava em mim.

Com muito custo consegui alguns mantimentos com o dono de uma mercearia.